segunda-feira, 19 de outubro de 2009

19 Outubro 1969

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Dia 19 de Outubro de 1969. Faz hoje 40 anos que ela morreu.
Naquele altura eu tinha 23 anos, estava na flor da vida, era um jovem cheio de sonhos. E no fatídico dia, estava na Escola Naval que fica no Base Naval do Alfeite; tinha entrado na Marinha havia pouco mais de um mês, era um fim de semana, tinhamos saído para o mar num draga-minas de instrução. O tenente Santarém da Cruz, que estava de oficial de dia, chama o cadete Queirós pelo altifalante da escola. Foi para me dar a notícia, Ela tinha morrido no Hospital dos Capuchos, estava na morgue, só podia vê-la na terça feira seguinte.

Já lá vão 40 anos...
Mas o que são 40 anos na vida de uma pessoa?


"Se me dás fortuna, não me tires a razão.
Se me dás exito, não me tires a humildade.
Se me dás humildade, não me tires a dignidade"

Oração de Mahatma Gandhi

Este dia é, para mim, um dia do perdão,

Luís

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Carta da Prima Helena

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A prima Helena escreve-me com frequência. Conta-me histórias, lamenta-se dos seus problemas de saúde, vê-se que é uma pessoa inteligente e sensivel. Deixo aqui a sua última carta e a fotografia do casamento do irmão Elias, sem data, onde se vê o tio Toneca e a tia Salomé.



Coimbra 4 de Setembro de 2009
Primo Luís

Mais uma vez obrigada por nos receberem tão carinhosamente na vossa casa.
Gostei muito de vos conhecer e à vossa filha e filhos. A Paula foi amorosa.
Lamento o esquecimento do pouco que vos levava.
Foi quase tudo muito rápido, o livro está muito bem conseguido, é certo que havia mais para dizer. Eu saberia responder ao que deixaste em branco. Logo que tenhas possibilidade eu conto para ti mas não para o livro. Está aflorado ali, no capitulo “Dores da Aida”, é normal, com sofrimento, que a irmã chorasse pelo irmão que quatro demónios quiseram destruir. Ele gostava da irmã, embora desconhecia se alguma vez chorou. Nessa noite fazia o caminho da casa dele para a da minha avó. Ia comigo e levava uma forquilha. Mas enquanto ao Cristo chicotearam até á morte no calvário, do meu pai nenhum se abeirou porque o temeram, razão de tocarem o sino. Lembro-me tão bem de vir por aquele caminho, lembro-me como se fosse hoje.

No cemitério deixaram as flores para todos, queridos primos. Fizeram bem porque elas não devem ter quem lhas deixe. Os meus pais ainda têm as filhas e o neto André, têm velas, luz, flores, estão por nossa vontade na terra, como eles queriam porque foram pobres na terra, mas ricos além no Céu. Estão voltados para S. Pedro.

Eu sei quem gosta de nós. O Roseirão, o velho João Moutinho, que morreu caindo da égua a caminho de Almeida e a avó Reta que saia à rua com uma faca na mão para assustar quem tocasse nos seus netos, fizeram muita falta àqueles irmãos, Aida, Toneca e Zeca…desse trauma sofreram todos três.
Peço-te desculpa pela conversa, espero que compreendas. O resto será só para ti, para não morrer só comigo.
Cumprimentos e uma festinha ao meigo Whisky,

Maria Helena