sexta-feira, 25 de junho de 2010

Recordações (10)

Tudo o vento levou

Já contei, atrás, os acontecimentos relacionados com a ida falhada do meu irmão António para o Brasil, e de como isso mudou a vida da nossa família, na casa de meus pais. Lembro-me bem, aquilo foi como se um tornado tivesse passado, como se o ventou tudo tivesse levado. Como se pode concluir, a minha vida, nos meus princípios, vividos em casa dos meus pais, não foi fácil nem risonha. Mas foi também uma lição que eu aprendi para a vida, esta de ficar a saber de que não podemos tomar nada como certo nem definitivo, de que a desgraça pode chegar a qualquer momento, sem avisar e quando menos se espera.

Éramos três irmãos, e fui eu o primeiro que casei. Comecei, após o casamento, uma vida nova com poucos recursos, e sem nenhuns auxílios. Recordo-me da grande luta que tive de travar para vencer, para não cair na lama, e para conseguir o pão necessário para cada dia . Tive de aprender de tudo um pouco, agricultura, barbeiro, sapateiro, pedreiro, carpinteiro, tudo trabalhos sem horário de trabalho e sem descanso semanal. Férias nem pensar nisso, e, mesmo assim, conseguimos uma situação económica equilibrada.

Uma das coisas que eu fazia, nesses primeiros anos, era matar, de vez em quando, uma rês, um cabrito, um borrego ou uma ovelha para vender a carne. Com isso fazia algum dinheiro que dava para pagar o custo do animal, e sempre se aproveitavam aquelas partes menos vendáveis da peça, que nós comíamos em casa. Eu gostava de esfolar, tirar as peles, separar as partes, e usava sempre uma faca boa e muito bem afiada numa pedra de esmeril. Certa vez fui comprar um borrego ao mercado de Figueira, e tive de o trazer até S. Pedro, pela arreata, coisa aí para uns 20 Kms de distância. Não sei quem se cansou mais, se eu ou o animal, mas quando chegamos a S. Pedro ele pesaria uns quilos a menos, e, assim, lá se foi parte do lucro.

Enfim, tinha assumido a grande responsabilidade de ser chefe de família que custa mais que ser solteirão. E não podia dar parte de fraco!. Dentro em pouco tempo 1 filho, isso repetiu-se mais vezes até ao número de quatro filhos…

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