Uma viagem por mar
Foi sempre uma aspiração minha sair da terra onde nasci, e essa vontade estava agora a realizar-se. Já estava em Lisboa, numa pensão perto do largo do Martim Moniz, e aquele movimento da praça da Figueira, ali perto, causava-me uma grande admiração, pela abundância de produtos à venda, e todo aquele buliço do mundo dos negócios.
E no final da tarde do dia 5 de Março de 1949, parti, no paquete Pátria, rumo a África. Largámos de Alcântara e logo passámos em frente à torre de Belém, única referência em monumentos, para mim que desconhecia Lisboa. E na margem direita, no crepúsculo daquele final de tarde, já começavam a aparecer os luzeiros das localidades que vão surgindo, a seguir a Lisboa. Quando passámos a última localidade, sei hoje que era Cascais, apenas o mar à nossa volta e um barulho compassado das máquinas, que me iria incomodar por largos dias.
Quando os últimos sinais de terra desapareciam, começava a grande aventura e eu já começava a sentir saudade dos que ficavam. Esta era a minha primeira viagem de barco, e tudo para mim era novidade. Éramos servidos numas grandes mesas, e ser assim servido era algo que me acontecia pela primeira vez na minha vida. No princípio, por não estar habituado, eu nem me ajeitava bem usar a faca e o garfo, ou a descascar a fruta com aquelas facas, mas ficava a olhar os outros para fazer como eles, e acho que não me comportei mal.
Com um fraco convívio com os outros passageiros, porque não os conhecia, lá fui eu naquele mar, um pouco solitário, e sempre a pensar naquilo que me esperava no destino. Ia viajando com tanto sacrifício por causa do enjoo, que desanimei ao ponto de desmaiar já sem forças, porque não comi nada em 48 horas.
Fizemos a primeira escala no Funchal, terra que me deslumbrou pela sua beleza natural, as casas dispostas ao subir da encosta faziam lembrar um presépio. Mas eu não tinha tempo para apreciar estas belezas, e só pensava nos que tinham ficado, e no que viria depois. Em S. Tomé ficámos ancorados ao largo, e vinham grandes barcaças cheias dos naturais da Ilha que encostavam ao barco, para receber e deixar grandes fardos de mercadorias, tudo numa grande azáfama. Eu ficava a olhar aquele espectáculo, e tudo era novo para mim.
E numa manhã de neblina, com muito calor, fomos informados de que estávamos a chegar a Luanda, e iríamos desembarcar naquela tarde.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
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