segunda-feira, 12 de julho de 2010

Recordações (16)

O Regresso de África

Passada a aquela fase mais difícil do princípio, já alguns conhecimentos da vida comercial muitos adquiridos à minha custa, mas também de falar e de ver como faziam os que já lá estavam há mais tempo, e tinham singrado na vida, era altura de pensar no futuro... Com os conhecimentos que já tinha da vida comercial, e como tinha juntado um dinheirito, a minha ideia era lançar-me por conta própria e levar a família para junto de mim. Os filhos estavam a crescer, haviam de abrir os olhos, e logo cada um tiraria o seu plano.

Nós temos boas intenções, mas vida não é como a gente quer, e um dia comecei a sentir-me mal, aquelas febres de África começaram a deixar-me de rastos, e logo pensei o pior. Custou-me muito, mas tive que escrever uma carta à Aida a dizer-lhe que não estava bem. Não contei tudo, fui dizendo que era uma coisa passageira, mas tive que lhe dizer onde estava o meu dinheiro e o que devia fazer para o levantar se acontecesse o pior.

E lá tive de vir outra vez, de barco, muito abatido com a esperança de melhorar mas preocupado pois tinha que começar a vida outra vez de novo. Dessa vez o barco parou nas Canárias onde comprei alguma roupa para o frio pois não trazia nada, e comprei também uma camisola de lã azul para a Aida, lembro-me bem, que a usou durante muitos anos.

Chegado a Lisboa, foi o tempo de fazer as contas com o Madeira e Marques e apanhar o comboio para Vilar Formoso onde tinha na estação, à espera, os filhos com o padrinho Norberto, todos menos o mais pequeno. Eles tinham ido a pé, mas na volta para S. Pedro fomos num carro de aluguer do Augusto, que eu já conhecia.

Em S. Pedro toda a gente me vinha ver, porque tinha chegado de África, e porque estava ainda meio adoentado. Já não estava acostumado àquela vida da aldeia mas lá me fui ajeitando. Mas ficar ali não era vida, naqueles seis anos que estive fora pouco se alterou, o que se via é que muitos tinham partido, uns para África, outros para Lisboa e alguns daquelas terras começavam a partir, a salto, para a França à procura de melhor vida.

Dos filhos, três tinham a escola feita, cá se criaram só com a mãe e com a ajuda do Norberto e da Lucília que eram padrinhos de todos mas sempre os trataram como filhos deles. Ainda foi uma sorte que nós tivemos, muitas vezes nos ajudaram. Estávamos naquela de matutar o que fazer da vida e a conclusão era sempre que tínhamos que sair dali.

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