segunda-feira, 12 de julho de 2010

Recordações (15)

Seis anos longe da família

África para mim foi uma grande escola, pois eu não sabia o que era a vida comercial, e tive de aprender tudo a partir do zero. Eu tratava de tecidos, confecções, diversos, medicamentos, mantimentos, vinhos, vendia de tudo um pouco. O negócio era feito à base da tal permuta com produtos coloniais, tais como: óleo de palma, coconote, gergelim, chingola e até peles para casacos de um animal do campo, espécie de cabrito do mato, cuja carne é muito boa, e eu só comi uma vez, que me lembre.

Seis anos longe de casa é muito tempo. Nesses tempos não havia outra possibilidade de contactar à distância a não ser pelo correio. Nunca esqueci a minha família, tive sempre presentes as minhas responsabilidades, que não eram tão pequenas com seis pessoas a meu cargo. Às vezes lá recebia uma carta e uma foto, com os nomes dos filhos anotados, a lápis, por trás. Eu fixava longamente essas fotos e sentia um grande vazio dentro de mim, por não poder acompanhar o crescimento dos meus filhos.

Acho que muito se venceu e conseguiu com muito esforço e boa vontade. Esforcei-me sempre, e com grande vontade, para conseguir um bom relacionamento com todas as pessoas bem intencionadas de todas as classes e de todas as ideologias. Sentia que havia, em relação a certas pessoas, diferenças no aspecto social e económico, mas eu consegui sempre a forma comunicativa de me relacionar com elas. Lembro-me do Sr. Patacas e da esposa, e dos pic-nics que faziamos no campo, e de um tal Bicho que estava também sem a família, e que trabalhava no mesmo ramo que eu. E sempre todos me consideraram.

E se alguém não nos aceita tal como somos, é nessas alturas que melhor se ficam a conhecer os seres humanos. Vem ao de cima a sua maneira de ser, e a sua instrução e formação, e tornam-se mais evidentes os seus defeitos e as suas qualidades.

No Sumba, tive também de me relacionar com os naturais, fiquei a conhecer as suas crenças, os seus costumes e a sua maneira de ser, e às vezes impressionava-me a ingenuidade com que encaravam a vida e os seus problemas. Mas também com eles aprendi, e fiz amigos, e só tive pena de a minha cultura não ter sido suficiente para perceber melhor a deles.

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