A encerrar
Estou já a chegar ao fim do caderno, e fico com a impressão de que ainda falta muita coisa para contar. Escrever aqui trouxe-me à memória boas recordações, possivelmente a nossa memória guarda melhor as boas do que as más. Mas algumas das boas recordações eu omiti, porque já não as posso partilhar com quem comigo as viveu.
Vejo o mundo actual tão diferente daquele em que eu me criei que às vezes até me custa a acreditar como é possível haver tanta coisa para tanta gente. Na minha infância, nós aproveitávamos as coisas até ao limite: os fatos, as camisas, os sapatos nada se estragava, os restos de comida eram para os animais, as roupas velhas eram cortadas para fazer fios e tecer mantas. Nós não sabíamos o que era "lixo" porque nada se deitava fora.
O que antes era tão difícil de conseguir hoje parece tão fácil. E vejo muita gente a viver bem sem trabalhar, e não consigo perceber como conseguem. Os jovens de hoje têm a água quente a sair da torneira, o conforto de uma casa de banho, e poucos sabem o trabalho e as voltas que dá um grão de trigo antes de se transformar numa fatia de pão.
A necessidade da vida, a vida dos negócios, trouxeram-me muitos conhecimentos, e permitiram-me estabelecer relações com muitas as pessoas. Eu sempre gostei do diálogo, e dei-me com pessoas de todo o tipo: encontrei muita gente inteligente e boa, e esses, para mim, foram os mais tratáveis e menos desconfiados. Mas até com os menos evoluídos podemos aprender, e devemos saber tratar com eles, pois que todas as pessoas têm o seu valor.
Quando um dia partirmos desta vida, de cada um de nós ficarão as obras que fizermos, e sobretudo as que são de utilidade para todos. Quanto a mim, confesso, fui mais para projectos do que realizador.
Na nossa vida, chega um momento, em que as recordações já parecem contar mais do que o momento presente. Vou vivendo os dias que me faltam com essas lembranças e fico satisfeito quando os mais novos gostam de me ouvir contar como foi a minha vida.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
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