terça-feira, 20 de julho de 2010

José Queirós

Foi no Natal de 1983 que a Patrícia ofereceu um caderno de folhas brancas ao avô com esta dedicatória: “Ao avô José Luís. Para contar como foi a sua vida, dos pais, irmãos, e como era a vida em S. Pedro, em África e na Guarda. Beijinhos da Patrícia”. A ideia partiu da Fátima, e em boa a hora a teve, e também em boa hora pensou que era a altura para dar a conhecer a todos os familiares e amigos o conteúdo deste caderno que guardava há vinte anos.

No caderno escreveu José Queirós com a sua caligrafia desenvolta e elegante, a denunciar uma mente aberta e criativa. É uma escrita simples e informal, num tom coloquial que nós tão bem lhe conhecíamos. Eu e o Armando fixámos o texto: arrumámos aqui e acolá, fizemos a ligação quando as ideias apareciam mais soltas, e, nalguns casos, acrescentámos aquelas passagens que não foram escritas mas nos foram muitas vezes contadas, procurando sempre respeitar o estilo e a fidelidade das passagens da sua vida que mantemos na memória e apenas nos limitámos a reproduzir.

José Queirós representa bem o século XX onde se situa toda a sua vida. Nestes escritos ele confronta as mudanças ocorridas no mundo, e espanta-se com elas e, às vezes, não lhe percebe o sentido. Vê facilitismo nas mudanças, admira-se de se ir esbatendo a memória do tempos das dificuldades. O resultado são estes 18 belos quadros evocativos duma época, não muito distante, que muitos de nós ainda viveram. Tempo que é bom ter sempre presente para que os mais novos não o esqueçam.

José era o filho do meio e viveu como que encaixado entre dois irmãos com marcada personalidade: o mais velho António, por muitos considerado como um filósofo e pensador, e o mais novo, Luís, com uma capacidade dedutiva que rondava o brilhantismo, era admirado pelo sucesso dos projectos que empreendia. Talvez por isso ele exprima, por várias vezes, a necessidade de afirmar as suas capacidades, em que sobressai a sua visão universalista do mundo e das transformações por que passou durante a sua vida e, de uma forma talvez tímida, deixar a sua marca: “mas não fui dos piores”, “ lá consegui” , “não me saí mal”. E faz isso, não para marcar a diferença que nunca verbalizou, mas para se reafirmar à sua maneira

Vai o livro enriquecido com as ilustrações do neto Miguel, as quais recriam de forma bem original, pelos olhos de um jovem que já pertence ao mundo novo, as imagens suscitadas pelos textos. Ao Veiga que fez a revisão final dos textos, o nosso agradecimento.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Recordações (18)

A encerrar

Estou já a chegar ao fim do caderno, e fico com a impressão de que ainda falta muita coisa para contar. Escrever aqui trouxe-me à memória boas recordações, possivelmente a nossa memória guarda melhor as boas do que as más. Mas algumas das boas recordações eu omiti, porque já não as posso partilhar com quem comigo as viveu.

Vejo o mundo actual tão diferente daquele em que eu me criei que às vezes até me custa a acreditar como é possível haver tanta coisa para tanta gente. Na minha infância, nós aproveitávamos as coisas até ao limite: os fatos, as camisas, os sapatos nada se estragava, os restos de comida eram para os animais, as roupas velhas eram cortadas para fazer fios e tecer mantas. Nós não sabíamos o que era "lixo" porque nada se deitava fora.

O que antes era tão difícil de conseguir hoje parece tão fácil. E vejo muita gente a viver bem sem trabalhar, e não consigo perceber como conseguem. Os jovens de hoje têm a água quente a sair da torneira, o conforto de uma casa de banho, e poucos sabem o trabalho e as voltas que dá um grão de trigo antes de se transformar numa fatia de pão.

A necessidade da vida, a vida dos negócios, trouxeram-me muitos conhecimentos, e permitiram-me estabelecer relações com muitas as pessoas. Eu sempre gostei do diálogo, e dei-me com pessoas de todo o tipo: encontrei muita gente inteligente e boa, e esses, para mim, foram os mais tratáveis e menos desconfiados. Mas até com os menos evoluídos podemos aprender, e devemos saber tratar com eles, pois que todas as pessoas têm o seu valor.

Quando um dia partirmos desta vida, de cada um de nós ficarão as obras que fizermos, e sobretudo as que são de utilidade para todos. Quanto a mim, confesso, fui mais para projectos do que realizador.

Na nossa vida, chega um momento, em que as recordações já parecem contar mais do que o momento presente. Vou vivendo os dias que me faltam com essas lembranças e fico satisfeito quando os mais novos gostam de me ouvir contar como foi a minha vida.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Recordações (17)

Tempo da Guarda


Quando surgiu a possibilidade de trespassar uma taberna na Guarda, lá fui com a Aida, e um tal Manuel China, que conhecemos através do Zé Vitorino, e que nos levou à tal taberna. Que afinal era também casa de hóspedes e estava ali, no Largo dos Correios, onde paravam as camionetas todas, sítio de movimento. E logo se fez negócio, onde se gastou quase tudo o que tinha trazido de África, quase 45 contos.

Com muito trabalho, levantávamos logo cedo para acender o fogão de lenha com carqueja, faziam-se logo umas coisas para vender na taberna, bacalhau frito tínhamos sempre, porque havia muita gente a gostar, vendia-se bem, uma posta daquelas metida num molete e já não se ficava mal.

Às quartas e aos sábados tínhamos sempre mais freguesia, vinha aquela gente das terras ali perto, uns a tratar coisas na cidade e muitos vinham vender coisas à praça porque nesses dias era mercado. Na feira do S. João e do S. Francisco então era uma enchente, não tínhamos mãos a medir. Muitas vezes vinha nesses dias a Celeste do Zé Vitorino a ajudar na cozinha e dava bom jeito.

Penso que ali na Guarda, embora fossemos pessoas simples com poucos estudos, conquistámos uma certa posição. Muita gente nos estimava, eram os vizinhos gente com muita educação e pessoas estabelecidas na cidade que fomos conhecendo. O Pinto, da Casa de Utilidades, uma grande cabeça, homem muito sério que nos vendia louças e coisas que precisávamos, e que ia lá casa a dar injecções porque tinha sido enfermeiro. Falávamos de muita coisa, e começámos a ver que estávamos do mesmo lado quanto às ideias.

Com outras pessoas tinha um certo receio de falar, era aquele medo, mas quando foi em 1958 que o Humberto Delgado se candidatou a Presidente, muita gente se começou a abrir, até o António Cesteiro, que só lá ia beber um copo e quase nunca dizia nada, me confessou que tinha sido sempre do contra. Fomos muitos, ali ao largo do Hotel Turismo, ver o Humberto Delgado que subiu à varanda do hotel para falar ao povo, com o Dr. João Gomes sempre ao lado dele em todo lado, e depois foi uma bicha de carros até ao limite do distrito quando foi fazer campanha para Viseu, mas eu aí não fui.

Passados já tantos anos, a conclusão é que fizemos bem ir para a Guarda, muito trabalho, muitas canseiras, mas também uma vida farta sem grandes problemas. Os filhos foram crescendo, trabalhando e estudando e cada um acabou por tirar o plano à sua maneira para ter uma vida melhor que nós tivemos. Só fiquei com pena que nenhum deles se tivesse lançado na vida comercial, que foi uma coisa que eu sempre gostei.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Recordações (16)

O Regresso de África

Passada a aquela fase mais difícil do princípio, já alguns conhecimentos da vida comercial muitos adquiridos à minha custa, mas também de falar e de ver como faziam os que já lá estavam há mais tempo, e tinham singrado na vida, era altura de pensar no futuro... Com os conhecimentos que já tinha da vida comercial, e como tinha juntado um dinheirito, a minha ideia era lançar-me por conta própria e levar a família para junto de mim. Os filhos estavam a crescer, haviam de abrir os olhos, e logo cada um tiraria o seu plano.

Nós temos boas intenções, mas vida não é como a gente quer, e um dia comecei a sentir-me mal, aquelas febres de África começaram a deixar-me de rastos, e logo pensei o pior. Custou-me muito, mas tive que escrever uma carta à Aida a dizer-lhe que não estava bem. Não contei tudo, fui dizendo que era uma coisa passageira, mas tive que lhe dizer onde estava o meu dinheiro e o que devia fazer para o levantar se acontecesse o pior.

E lá tive de vir outra vez, de barco, muito abatido com a esperança de melhorar mas preocupado pois tinha que começar a vida outra vez de novo. Dessa vez o barco parou nas Canárias onde comprei alguma roupa para o frio pois não trazia nada, e comprei também uma camisola de lã azul para a Aida, lembro-me bem, que a usou durante muitos anos.

Chegado a Lisboa, foi o tempo de fazer as contas com o Madeira e Marques e apanhar o comboio para Vilar Formoso onde tinha na estação, à espera, os filhos com o padrinho Norberto, todos menos o mais pequeno. Eles tinham ido a pé, mas na volta para S. Pedro fomos num carro de aluguer do Augusto, que eu já conhecia.

Em S. Pedro toda a gente me vinha ver, porque tinha chegado de África, e porque estava ainda meio adoentado. Já não estava acostumado àquela vida da aldeia mas lá me fui ajeitando. Mas ficar ali não era vida, naqueles seis anos que estive fora pouco se alterou, o que se via é que muitos tinham partido, uns para África, outros para Lisboa e alguns daquelas terras começavam a partir, a salto, para a França à procura de melhor vida.

Dos filhos, três tinham a escola feita, cá se criaram só com a mãe e com a ajuda do Norberto e da Lucília que eram padrinhos de todos mas sempre os trataram como filhos deles. Ainda foi uma sorte que nós tivemos, muitas vezes nos ajudaram. Estávamos naquela de matutar o que fazer da vida e a conclusão era sempre que tínhamos que sair dali.

Recordações (15)

Seis anos longe da família

África para mim foi uma grande escola, pois eu não sabia o que era a vida comercial, e tive de aprender tudo a partir do zero. Eu tratava de tecidos, confecções, diversos, medicamentos, mantimentos, vinhos, vendia de tudo um pouco. O negócio era feito à base da tal permuta com produtos coloniais, tais como: óleo de palma, coconote, gergelim, chingola e até peles para casacos de um animal do campo, espécie de cabrito do mato, cuja carne é muito boa, e eu só comi uma vez, que me lembre.

Seis anos longe de casa é muito tempo. Nesses tempos não havia outra possibilidade de contactar à distância a não ser pelo correio. Nunca esqueci a minha família, tive sempre presentes as minhas responsabilidades, que não eram tão pequenas com seis pessoas a meu cargo. Às vezes lá recebia uma carta e uma foto, com os nomes dos filhos anotados, a lápis, por trás. Eu fixava longamente essas fotos e sentia um grande vazio dentro de mim, por não poder acompanhar o crescimento dos meus filhos.

Acho que muito se venceu e conseguiu com muito esforço e boa vontade. Esforcei-me sempre, e com grande vontade, para conseguir um bom relacionamento com todas as pessoas bem intencionadas de todas as classes e de todas as ideologias. Sentia que havia, em relação a certas pessoas, diferenças no aspecto social e económico, mas eu consegui sempre a forma comunicativa de me relacionar com elas. Lembro-me do Sr. Patacas e da esposa, e dos pic-nics que faziamos no campo, e de um tal Bicho que estava também sem a família, e que trabalhava no mesmo ramo que eu. E sempre todos me consideraram.

E se alguém não nos aceita tal como somos, é nessas alturas que melhor se ficam a conhecer os seres humanos. Vem ao de cima a sua maneira de ser, e a sua instrução e formação, e tornam-se mais evidentes os seus defeitos e as suas qualidades.

No Sumba, tive também de me relacionar com os naturais, fiquei a conhecer as suas crenças, os seus costumes e a sua maneira de ser, e às vezes impressionava-me a ingenuidade com que encaravam a vida e os seus problemas. Mas também com eles aprendi, e fiz amigos, e só tive pena de a minha cultura não ter sido suficiente para perceber melhor a deles.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Recordações (14)

África Minha

Mas a esperança mantinha-se e passados uns dias houve quem me dissesse: “Você tal dia vai para Santo António do Zaire”. E no dia indicado, lá embarquei numa camioneta da marca Comer, que era para ser entregue a um cliente do Norte de Angola.

As estradas eram as “picadas”, muito danificadas, e a viagem foi bastante acidentada devido às chuvas. A tal ponto as coisas se tornaram difíceis, que a certa altura tornou-se impossível prosseguir viagem, e o dito carro teve de voltar para Luanda. Eu então segui viagem, à boleia, até ao Zaire, mas antes ainda tive de me hospedar em Ambrizete, no hotel do Sr. Morais. Estava sem dinheiro, e a despesa foi paga pela firma Madeira e Marques. Despesa essa que mais tarde, me foi debitada, quando já estava a ganhar, e colocado na vida comercial.

Comércio esse que de princípio não percebia nada. E isto criava-me uma tal angústia que me provocava um grande desânimo. Julgo que se, nessa altura, tivesse dinheiro para custear a viagem, teria logo regressado, como fizeram tantos que eu conheci. Ainda cheguei a falar com alguém e pedir-lhe emprestado dinheiro para a passagem de regresso. Mas essa pessoa aconselhou-me bem, e fez-me ver que tinha desfeito a vida em Portugal e que tinha responsabilidades familiares, e que só tinha um caminho a seguir que era aguentar como os outros. E aí eu decidi aguentar mesmo a valer. Mas muitos deles eu vi sofrer naquelas terras, onde nem tudo era um mar de rosas.

Mais tarde convenci-me que eu não era dos piores e cheguei mesmo a gostar muito de África. Quando abandonei África, muitas coisas me deixaram saudades, aquela gente, aquele clima, as comidas sempre bem confeccionadas. E nunca esquecerei a Moamba, preparada à base de carne de galo ou pato cozinhada com óleo da palmeira. Era um prato de que toda a gente gostava.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Recordações (13)

Uma viagem por mar

Foi sempre uma aspiração minha sair da terra onde nasci, e essa vontade estava agora a realizar-se. Já estava em Lisboa, numa pensão perto do largo do Martim Moniz, e aquele movimento da praça da Figueira, ali perto, causava-me uma grande admiração, pela abundância de produtos à venda, e todo aquele buliço do mundo dos negócios.

E no final da tarde do dia 5 de Março de 1949, parti, no paquete Pátria, rumo a África. Largámos de Alcântara e logo passámos em frente à torre de Belém, única referência em monumentos, para mim que desconhecia Lisboa. E na margem direita, no crepúsculo daquele final de tarde, já começavam a aparecer os luzeiros das localidades que vão surgindo, a seguir a Lisboa. Quando passámos a última localidade, sei hoje que era Cascais, apenas o mar à nossa volta e um barulho compassado das máquinas, que me iria incomodar por largos dias.

Quando os últimos sinais de terra desapareciam, começava a grande aventura e eu já começava a sentir saudade dos que ficavam. Esta era a minha primeira viagem de barco, e tudo para mim era novidade. Éramos servidos numas grandes mesas, e ser assim servido era algo que me acontecia pela primeira vez na minha vida. No princípio, por não estar habituado, eu nem me ajeitava bem usar a faca e o garfo, ou a descascar a fruta com aquelas facas, mas ficava a olhar os outros para fazer como eles, e acho que não me comportei mal.

Com um fraco convívio com os outros passageiros, porque não os conhecia, lá fui eu naquele mar, um pouco solitário, e sempre a pensar naquilo que me esperava no destino. Ia viajando com tanto sacrifício por causa do enjoo, que desanimei ao ponto de desmaiar já sem forças, porque não comi nada em 48 horas.

Fizemos a primeira escala no Funchal, terra que me deslumbrou pela sua beleza natural, as casas dispostas ao subir da encosta faziam lembrar um presépio. Mas eu não tinha tempo para apreciar estas belezas, e só pensava nos que tinham ficado, e no que viria depois. Em S. Tomé ficámos ancorados ao largo, e vinham grandes barcaças cheias dos naturais da Ilha que encostavam ao barco, para receber e deixar grandes fardos de mercadorias, tudo numa grande azáfama. Eu ficava a olhar aquele espectáculo, e tudo era novo para mim.

E numa manhã de neblina, com muito calor, fomos informados de que estávamos a chegar a Luanda, e iríamos desembarcar naquela tarde.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Recordações (12)

Emigrar!


Como as despesas a aumentar, comecei a ver que não ia ser fácil aguentar o barco, e fui pensando em emigrar para África. Este era o caminho que muitos escolhiam. Havia muitos que saíam, e o meu irmão Luís, terminado o serviço militar, já tinha emigrado para Moçambique, e isso serviu para aguçar ainda mais o meu desejo de fazer o mesmo. Mas era preciso a tal "carta de chamada" sem a qual não era autorizada a saída para África.

Aida acarinhava a ideia, animava-me e incentivava-me. A oportunidade surgiu através de uma prima sua, irmã do Augusto Cavaleiro da Mata de Lobos, que estava casada com um tal Aníbal Madeira, homem que tinha grandes negócios em Angola, e era sócio de uma tal firma Madeira e Marques com sede em Luanda.

Falou-se com aquela gente, e lá chegou a carta de chamada. Depois trataram-se os papéis e aprazou-se o dia da partida. Na noite anterior praticamente não dormi. Saí de casa e deambulei pelas ruas, interrogando-me se não seria essa a última noite que passeava na aldeia. Fui ao palheiro acendi uma candeia que eu próprio tinha improvisado com uma torcida de pano mergulhada num frasco de "Ceregumil". E, como se estivesse a despedir-me, olhei para os magros pertences da lavoura, e para o porco que era toda a riqueza de animais que nos restava.

A mala levava coisa pouca e já estava preparada: uma fatiota, umas mudas de roupa interior, umas camisas, e pouco mais. Numa taleiga de pano, já Aida tinha preparado e arrumado a merenda à base de pão, queijo, umas chouriças, e uma garrafa de vinho. Nem ao menos uma fotografia de Aida e das crianças para lembrança. Naqueles tempos, não se tinha possibilidade de ter estas coisas.

No manhã do dia seguinte, juntou-se um grupo de pessoas à nossa porta, e lá fomos formando um procissão até à Nave, que fica no limite da povoação. Aí fizeram-se as despedidas da mulher e dos filhos. E montado na burra preta da minha mãe, lá fui eu e uns quantos (que haveriam de voltar para S. Pedro com a burra!), a caminho de Vilar Formoso onde iria apanhar o comboio para Lisboa.