terça-feira, 28 de julho de 2009

Aida e José

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Aida e José casaram em 16 de Março de 1938. Foi numa quarta-feira dia de lua cheia, terá sido esta a data do enlace civil em Almeida. Não existem referências ao casamento religioso que se terá realizado em S. Pedro, não existem fotos, não se sabe quem foram os padrinhos, não se sabe se terá havido boda. Quase certo é que a família de Aida, a mãe Laura e o padrasto António Borges que ela tratava por Papá, não terão ido ao casamento. Possivelmente nem os irmãos, presumo que talvez Zeca, com pouco mais de 20 anos terá estado presente.
O primeiro filho, António, nasceria três meses depois e isso explica a precipitação do casamento. O namoro e o casamento não estavam certamente nos planos de Laura e António que fortemente o contrariaram; aliás colheu de surpresa toda a Aldeia que viu nele a dissonância de um enlace entre opostos: a menina prendada, educada, culta, preparada para outros destinos e o homem rude de mãos calejadas pelo trabalho no campo, dedos adaptados à foice, pele tisnada pelo sol. Numa primeira reacção, até Cândida, mãe de José, terá questionado a falta de qualidades da futura nora, que não sabia plantar uma couve, mondar uma seara, ordenhar uma cabra. Cedo perceberia, porém, a qualidade do material de que ela era feita.
Eu imagino que a vida de Aida, com 25 anos, estava a chegar a um ponto de ruptura. Alguma paixão adolescente, já lhe teria ensinado a avaliar pessoas, personalidades, traços de carácter, a ler na alma, o que às vezes os olhos escondem, a distinguir entre o superficial e o profundo…
Nesta crucial decisão da sua vida, ao aceitar José como esposo, Aida viu mais longe. Terá visto nele o homem profundamente humano, visceralmente honesto, trabalhador incansável, inteligente e justo. E isto, sei-o eu, não era perceptível para toda a gente. Era o perfil enigmático dos “Queiroses”, filósofos, ensimesmados, pensadores, inadaptados, sempre com os atacadores dos sapatos desapertados…
Aida e José, foram amigos e felizes. Nunca testemunhei uma ofensa, uma falta de respeito, o mínimo gesto de violência, física ou verbal entre eles.
Luís

1 comentário:

AT disse...

O Zeca foi ao casamento, bem como, apoiou a irmã em todas as suas decisões