
O primeiro filho, António, nasceria três meses depois e isso explica a precipitação do casamento. O namoro e o casamento não estavam certamente nos planos de Laura e António que fortemente o contrariaram; aliás colheu de surpresa toda a Aldeia que viu nele a dissonância de um enlace entre opostos: a menina prendada, educada, culta, preparada para outros destinos e o homem rude de mãos calejadas pelo trabalho no campo, dedos adaptados à foice, pele tisnada pelo sol. Numa primeira reacção, até Cândida, mãe de José, terá questionado a falta de qualidades da futura nora, que não sabia plantar uma couve, mondar uma seara, ordenhar uma cabra. Cedo perceberia, porém, a qualidade do material de que ela era feita.
Eu imagino que a vida de Aida, com 25 anos, estava a chegar a um ponto de ruptura. Alguma paixão adolescente, já lhe teria ensinado a avaliar pessoas, personalidades, traços de carácter, a ler na alma, o que às vezes os olhos escondem, a distinguir entre o superficial e o profundo…
Nesta crucial decisão da sua vida, ao aceitar José como esposo, Aida viu mais longe. Terá visto nele o homem profundamente humano, visceralmente honesto, trabalhador incansável, inteligente e justo. E isto, sei-o eu, não era perceptível para toda a gente. Era o perfil enigmático dos “Queiroses”, filósofos, ensimesmados, pensadores, inadaptados, sempre com os atacadores dos sapatos desapertados…
Aida e José, foram amigos e felizes. Nunca testemunhei uma ofensa, uma falta de respeito, o mínimo gesto de violência, física ou verbal entre eles.
Luís
1 comentário:
O Zeca foi ao casamento, bem como, apoiou a irmã em todas as suas decisões
Enviar um comentário