quarta-feira, 22 de julho de 2009

Aida jovem

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Não é fácil um filho falar da sua mãe de uma forma objectiva. E mais difícil ainda se torna para um filho de S. Pedro, onde parecia mal chorar, onde os sentimentos eram reprimidos, onde amar era “tabu”, onde aos cães atirávamos pedras, aos ninhos dos pássaros roubávamos os ovos, aos burros e vacas explorávamos até à exaustão.

Pois foi a essa terra que um dia, menina e moça, foi parar a minha mãe.

Às vezes eu imagino-a muito nova na loja do meio do povo, morena com umas tranças de um cabelo muito preto e usando um vestido simples, de chita. Imagino-a com uma capinha de lã, com umas meias de lã grossa e uns sapatos rasos.
Alguém que um dia me confessou ter tido um fraquinho por ela, chamava-lhe carinhosamente “a preta” tão morena que ela era. E os seus olhos eram de um castanho-escuro quase pretos, muito vivos e brilhantes
As pessoas gostavam dela mas ela tinha medo das pessoas, odiava os palavrões e a agressividade; por isso, sentia-se melhor do lado de dentro do balcão, sentia-se mais protegida. Era o seu mundo.
Lia tudo o que apanhava à mão, livros, folhas de jornais, sonhava com países longínquos e príncipes encantados.

Sonhava … sonhava


Luís

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