sexta-feira, 17 de julho de 2009

A minha tia Aida

Não poderei falar muito da tia Aida, eu convivi pouco com ela mas ela gostava de mim e acho que até tinha muita pena de mim. Mesmo assim tenho algumas boas lembranças. É algo que me foi contado com saudade e grande amizade. A minha mãe e ela fizeram o exame de admissão ao liceu juntas na Guarda. A amizade entre Salomé e Aida já era antiga de alguns anos de escola, eram muito confidentes. Os tios Borges, os seus irmãos mais novos, eram muito mais novos.
O tio Queirós visitava-nos sempre que ia a Vilar Formoso e até ofereceu o terço da tia à minha mãe e uma jarra africana, já um pouco partida, à afilhada Aida que em alturas festivas ela coloca na mesa com cravos. O António e Norberto não me deixarão mentir. Foi com eles que eu a conheci melhor. O Armando era mais novo e do Luís só me lembro de o ver, em casa, vestido de estudante.
A primeira vez que me lembro da tia foi quando nasceu a minha irmã Aida. Estava a tia e a Celestininha a combinar o nome para a menina. Ela nasceu no dia oito de Dezembro. Puseram-lhe por isso o nome da madrinha e o da data: ficou Aida da Conceição.

A tia Aida era uma senhora muito interessante, morena, cabelos pretos, lisos. Guardo uma foto dela em pequenita: era igual à minha irmã naquela idade, até se diria a mesma pessoa. Nessa foto está a nossa bisavó, o meu pai ao colo e a avó Laura e ela, com uma flor na mão. Julgo ser no baptizado do meu pai, Porfírio António, a quem chamavam Toneca, e que adorava a irmã.

O meu pai cantava para nós à lareira uma cantiga que a tia em pequenos lhe ensinou. Era muito nosso amigo. A sorte não o favoreceu mas era estimado e, no seu último dia, não lhe faltaram os grandes de Vilar Formosos até à sua última morada

Era esta a canção, que ele cantava muito para a minha irmã Aida:

Nossa senhora faz meia
Com linha feita de luz
O novelo é lua cheia
As meias são para Jesus…

E, quando cantava, chorava e esforçava a voz:

Deixem o rouxinol cantar
Não o prendam, deixem-no voar
Ele ama os seus rouxinoizinhos a chiar


A minha avó Ana, de S. Pedro, mandava-me, às vezes, a casa da Tia. Eu merendava lá as deliciosas torradas de pão caseiro feito por ela que sendo uma senhora bonita era muito trabalhadora e muito inteligente.
O primo António deve também lembrar-se destas visitas. Com o Norberto íamos os três à casa do padrinho Norberto e da madrinha Lucília que tinha olhos bonitos e era como uma irmã da tia.

Mais tarde voltei a estar com a tia Aida e a tia Luísa, de passagem em Vilar Formoso, vestia ela um casaco comprido e tinha os cabelos pretos apanhados.

A última vez que estive com a tia Aida foi na Guarda quando a Sara Rico de São Pedro me levou para lá para sofrer duas operações no hospital. Eu tomava o leite com a tia e o primo Norberto acompanhava-me a casa da Sara, querida amiga e tia de outras duas grandes amigas que eram a Lídia e a Maria. Ia visitar-me ao hospital, levava rebuçados para mim, e até as freiras comiam. Também quando estive na casa dos pais da minha professora na Guarda, ia com ela fazer compras na Véritas. Outras vezes ia visitá-la e também tomava leite com ela: Via como era bastante amiga das pessoas que iam à loja. As mulheres do povo de Vilar Formoso contavam o bem que ela lhes fazia. Acredito que muitas vezes contrariada mas ela era uma grande senhora. Lembro-me com carinho, com saudade amiga

Foi pena ela ter morrido tão cedo. Sempre que me é possível ouço missa por ela e por todos os que já partiram e levo flores ao Senhor da Paz.

Maria Helena Campos Teixeira

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