quarta-feira, 29 de julho de 2009

A atracção pelos poços (2)

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Coitadinho, afogou-se

Não fosse o apurado ouvido da minha mãe e eu teria, por certo, virado anjinho quando tinha para aí uns 3 anos de idade.
Era uma daquelas tardes em que os afazeres do campo deixavam a aldeia quase deserta e as ondas do som se propagam mais facilmente.
A minha mãe costurava nos degraus da casa da varanda, talvez cosendo os fundilhos de umas calças, desgastados no escorrega da lancha do forte, enquanto eu e o Norberto nos entretínhamos junto do poço da casa da avó Cândida.
Reinava aquele silêncio quando, a certa altura, ouviu o Norberto balbuciar: Coitadinho afogou-se.
Como não havia mais ninguém, o coitadinho, o afogado, só podia ser eu.
Aos gritos de pedido de socorro, enquanto corria para o local, acudiu o ti Alberto Carriço que trabalhava próximo e terá chegado a tempo de me tirar do poço
Quis o destino que, passados uns anos, fosse o Norberto a cair naquele mesmo poço. E, numa família que nunca acreditou muito nestas coisas, voltou a dar-se o milagre: salvou-se.

Armando

1 comentário:

António André disse...

recebido do António André por email.


Amigo Luís:
Os meus parabéns para ti e teus irmãos pela bonita homenagem prestada a vossa mãe. Gostei e já tentei enviar um comentário, mas não sei porquê, talvez por eu ser um “podão” nestas coisas da blogosfera, não o consegui enviar. Mas ainda bem, pois nele fazia referência à “varanda da casa” como posto privilegiado de recepção e transmissão de novidades pela aldeia. É que alguém me contou - não terias sido tu? – que, de lá, as vizinhas que se aqueciam ao sol de Inverno, observavam a paragem da carreira no carril e o caminho das Naves que os viajantes tomavam para chegar a S. Pedro. A novidade logo se espalhava. De qualquer modo aqui fica a lembrança.

antonio.ramos.andre@sapo.pt