terça-feira, 11 de agosto de 2009

Férias de Verão na Guarda

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A minha primeira recordação da Tia Aida reporta-se ao longínquo ano de 1959, era eu uma criança, na sequência de uma viagem que a mesma efectuou ao Porto para visitar a mãe Laura e os irmãos Elias, Manuel, Albina e Luísa. Esta visita foi registada em duas fotografias, coisa rara naquele tempo, sendo uma em casa dos meus pais e a outra na residência do Elias tendo por companhia a sua mãe Laura.
No entanto, já antes deste conhecimento pessoal, recordo perfeitamente que já a minha mãe Luísa se referia à irmã Aida com grande respeito, carinho e admiração, realçando a sua bondade e simpatia. Contactavam telefonicamente com frequência, sendo certo que existia mutuamente uma grande amizade e admiração.

Mais tarde, a convite da tia Aida, tive a felicidade de embarcar no Porto de comboio com destino à Guarda e mudança de carruagem na Pampilhosa, carregando uma pesada mala de cartão para gozar as férias grandes do Verão. Teria cerca de onze anos e fui cheio de expectativas, já que se tratava da minha primeira escapadela de casa para uma cidade que só conhecia do mapa, e para o seio de uma família praticamente desconhecida.
As expectativas excederam tudo que imaginava. Fui muito bem recebido pelos meus tios Aida e Queiroz, e pelos meus quatro primos que na época ainda eram solteiros e viviam com os pais. Devido à diferença de idades, eu fui o puto que de repente apareceu nas suas vidas, invadindo o seu espaço e alterando a sua vivência diária. Ao princípio, estranhei o movimento e a confusão da pensão e do restaurante, sempre cheios de clientes, no entanto depressa me habituei e sentia-me realizado e importante a ajudar o meu tio Queiroz a servir bebidas ao balcão. No meio de toda aquela azáfama, sobressaía a tia Aida, com a sua voz calma e suave o seu sorriso constante, qual comandante de navio, que tudo controlava desde o balcão sempre repleto, passando pela cozinha a preparar e a servir refeições e terminando na pensão supervisionando as mudas e limpeza dos quartos. Sempre notei que entre a tia Aida e o seu marido existia uma grande cumplicidade e carinho, sendo de realçar a harmonia existente na família Queiroz, apesar das naturais dificuldades de conviver num espaço partilhado com clientes, existindo por parte destes um grande respeito e amizade pelos meus tios.
Estas férias repetiram-se mais duas ou três vezes, com algumas pequenas estadias em S. Pedro do Rio Seco em casa dos padrinhos Norberto e Lucília, e em Almeida em casa dos meus tios Elias e Fátima. Recordo estes tempos com saudade e nostalgia, e escusado será salientar que esperava ansiosamente a chegada do mês de Agosto para embarcar no comboio rumo à Guarda. Estas estadias significavam novas experiências, o convívio e aprendizagem com pessoas boas e bem formadas, que contribuíram para a minha formação como pessoa. Em especial à tia Aida o meu obrigado por me ter convidado para a sua casa, apesar de toda a canseira do dia a dia, e me ter recebido e tratado como um filho.

Armando Luís Borges Mesquita

2 comentários:

Unknown disse...

muito obrigada

Mª.Ivone Almeida disse...

Estimado Luís Queirós

Sou Ivone, filha de Maria Cândida, e venho por este meio agradecer a forma carinhosa como presentearam a minha mãe, o que muito a sensibilizou. São estes pequenos gestos, que, e em especial a uma idosa de 82 anos, muito tocam, sobretudo pelo carinho que ela tinha pela vossa mãe e que recorda com muita saudade.

Também eu fiquei eternecida pela homenagem que fizeram em sua memória. De facto, a história de uma familia faz-se da "memória do coração".

Fica desde já a promessa de que vou ler esta história de amor à minha mãe. Ela foi operada aos dois olhos no ano passado, melhorou a visão ao longe, mas piorou ao perto e hoje, quando fiu lá a casa, estava muito triste porque não ia conseguir lê-lo.

Quando diz na abertura do livro que a sua mãe era uma mulher especial, é exactamente assim que a minha querida mãe a descreve: uma senhora doce, afectuosa e sempre com alguma coisa para dar aos pobres mesmo que ficasse sem nada para ela. Será que hoje em dia ainda se fazem mulheres desta massa?

Também tenho de vos felicitar pela fotografia a sépia, ficando a nostalgia de quem a conheceu, pois ela revela toda a sua bondade.

Receba um abraço da
Maria Ivone Almeida