quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Querida Avó Aida

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Eu sou a Luísa, tua neta. Tu não me conheces mas eu conheço-te. Como tu não tiveste filhas, se calhar com pena tua, eu acho que tu irias gostar de mim. Escrevo-te esta carta para te falar um pouco da minha vida. Tenho 17 anos, sou uma adolescente. Acabei este ano o nono ano.
Adoro cavalos, faço equitação. Em Almeida, adoro montar no Picadeiro de lá, o Sr Pereira já me conhece, tratam-me todos bem e gostam de mim.
Tenho que te falar também do Whisky, o nosso cão: é muito meiguinho, é quase como se fosse mais um da família, vai connosco para todo o lado. Não te falo do meu pai, tu se calhar és a pessoa que o conheces melhor, ele esteve 9 meses dentro de ti, mas digo-te que gosto muito dele, apesar de às vezes ser um bocadinho chato, mas às vezes até tem razão.
Mas eu gostava que tu conhecesses a minha mãe Paula: é a que está comigo na fotografia. Eu acho que ela é um bocadinho como tu foste, tudo anda à volta dela. Todos gostamos muito dela, até os meus os meus irmãos mais velhos que não são filhos dela, e o whisky, claro, nem se fala. Quando eu for velhota, hei-de fazer um blogue para ela.

Com muitos beijinhos
A tua neta Luisa

1 comentário:

Amigo por Afinidade disse...

Nota: Este comentário não se refere especificamente ao post em que é inserido, sendo uma apreciação global sobre todo o blog


Através de um amigo de um vosso amigo que conhece o meu interesse por este tipo de comunicação fui há uns tempos, incentivado a consultar este blog que, a partir daí, passei a seguir atenta e assiduamente.
Posso assim considerar-me um amigo vosso em terceiro grau ou talvez melhor um amigo por afinidade.
E é como tal que assino este comentário. Não por pretender o anonimato, mas mais por considerar que seria abusivo da minha parte incluir o meu nome num conjunto de nomes que têm muito em comum, desde laços familiares a uma convivência ou uma ligação muito estreita com antepassados vossos.
Feita a minha apresentação, começo por felicitá-los pela ideia que tiveram em procurar transmitir aos vossos descendentes toda a carga do vosso passado.
E, se na minha análise crítica, começaram por pretender homenagear os vossos progenitores, parece-me que ultrapassaram em muito o projecto inicial, já que nesta homenagem acabamos por ver incluídos antigos amigos e vários familiares e focados aspectos que ajudam, especialmente aos mais jovens, a compreender o temperamento medievo que nos caracteriza e de que ainda não nos libertámos.
A interpenetração entre relações familiares e de vizinhança, num modo de produção de subsistência e uma tendência para uma estratificação entre a classe rural e uma classe com pretensa ascensão à pequena burguesia, podem repescar-se em alguns dos textos e foram, em minha opinião características marcantes da nossa sociedade na primeira metade do século XX.
Por outro lado, é também visível a subtil influência das mulheres nas grandes decisões, numa sociedade que era profundamente machista.
As formas, veladas ou explicitas, de revolta contra as condições de vida e contra vários preconceitos, como era o caso de mães solteiras, com as trágicas consequências que daí resultaram, são também aflorados, às vezes de forma sublime, em alguns dos textos.
Também percebemos, através das linhas ou entrelinhas destes pequenos textos que o regime, apesar da sua extensa base de sustentação e do forte apoio da igreja, se defrontou com núcleos de oposição mesmo nos lugares mais recônditos, não obstante a suas formas de organização serem em grande parte dos casos muito incipientes.
Não queria terminar sem os felicitar pela forma como assumem, sem falsas modéstias, a humildade das vossas origens e orgulho nos vossos ascendentes, reconhecendo-lhes o contributo que tiveram para a vossa formação.