quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Os bons malandros do Liceu (3)

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O Luís Rodrigues acompanhou-me desde o 1º ano do Liceu. O nosso relacionamente manteve-se pela vida fora. O Luís é um Homem da Beira, um daqueles homens ligados visceralmente à terra, de que fala Aquilino. Planta e cultiva castanheiros pelo mero prazer de os ver crescer. Também ele quis falar sobre a D. Aida

Breve registo sobre a D. Aida

Naquele tempo nós já sabíamos que havia ditadura e não se podia falar contra o regime. Aprendemos no liceu a conviver com a discriminação sexual e só mais tarde ouvimos falar em marialvas e sociedade machista. Havíamos de tomar partido para que a situação se alterasse e alterou-se.
Os velhos que hoje somos (há quem prefira idosos pois o que conta é a lucidez) permite-nos reviver o passado e ir fazendo juízos de valor com ou sem justa causa.
Falar da nossa mãe não constitui motivo de polémica, são sempre as melhores, as mais puras, as que melhor nos trataram, mesmo que nos "chegassem a roupa ao pêlo" pois era sempre para nosso bem. Já o grau de saudade é que pode ser variável. Diferenças existem quando avaliamos o papel da mãe enquanto esposa e companheira e ponderamos a evolução temporal na luta contra a discriminação. Antes de ouvirmos o poema " Luísa Sobe a Calçada" já víamos as nossas Luísas ou Marias com a cesta ou o molho de erva à cabeça e ficávamos admirados como podiam ter tanta força.

É aqui que a imagem da D. Aida, e digo dona e nao senhora porque na vila e na cidade era esse o tratamento, a mãe do Queirós (Luís) vem à liça. A lebre guisada e outros petiscos por ela confeccionados são recordações de prazer.
Fisicamente, lembramo-nos de que era bem constituída, rosto moreno, cabelo preto, liso e enrolado no puxo, com um olhar que parecia que nos conhecia desde sempre.
A impressão de que devia dar-se bem com o Tio Zé Queirós só a pudemos confirmar mais tarde, assim como a igualdade de direitos, pois via-se bem que a D. Aida não era pessoa para ser mandada. E este era o traço que me interessava vincar. Defendo que a D. Aida deve ter tido a educação e a formação que permitiram o seu bom entendimento com o marido e o modelo de educação que legou aos seus filhos.
Em discussões havidas sobre a igualdade de direitos entre homem e mulher mantive sempre alguma distância no consenso geral que existe sobre a exploração desta. Claro que Salazar e a Igreja sempre se entenderam bem neste campo. Mas também
é verdade que além das situações de matriarcado que existiam nestas terras frias, a mulher era respeitada e fazia-se respeitar e nós muito devemos ao exemplo dessas mães e mulheres.
Pois bem, é nesta associação de ideias desse tempo que em termos de memória da D. Aida me ocorre fazer este registo de entendimento conjugal, pois o grande homem que foi o Zé Queirós só o terá sido devido a essa grande companheira que lamentavelmente partiu cedo demais.

Luís Rodrigues

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