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O Manel, era o mais novo de dois rapazes, filhos do ti Morgado; era um indivíduo astuto e insubmisso a quem a dureza do trabalho do campo e das condições de vida geravam um espírito de revolta permanente, que chegava a provocar uma certa conflitualidade no meio familiar.
Algumas vezes a nossa mãe, com o seu jeito apaziguador e aproveitando-se do respeito que os Morgados lhe tinham, teve necessidade de intervir para acalmar situações mais acaloradas.
O Manel Morgado, na ânsia de se libertar daquele tipo de vida e tirando partido do seu espírito aventureiro, metia-se em negócios que provavelmente nas mãos de outros até poderiam ser viáveis, mas que com ele nunca resultaram.
Lembro de uma vez aparecer com uns relógios que causavam a admiração a toda a gente porque os números ficavam luminosos na escuridão. Simplesmente ainda ninguém usava relógio de pulso em S. Pedro e muito poucas pessoas reuniam condições para os adquirir.
Em determinada altura ingressou na GNR, mas a disciplina militarizada daquela instituição não se adequou, por certo, ao seu feitio rebelde e passados uns tempos estava outra vez na terra.
A última vez que o vi foi no dia em que emigrou para a Argentina. Quando eu ia para a escola, ele estava a porta de casa a chorar. Pegou em mim ao colo e deu-me um abraço de despedida. Mesmo com aquela idade nunca imaginei que pudesse encontrar o Manel Morgado a chorar.
Passado algum tempo, alguém comunicou da Argentina: O corpo do Manel Morgado foi encontrado junto à linha do comboio.
Em S. Pedro ninguém acreditou que aquela morte tivesse resultado da sua decisão.
Armando
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