sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Nós também somos.

A nossa Rua (desculpem lá este sentido de posse), é hoje uma rua deserta como as da grande parte das aldeias do interior. Tem casas recuperadas, já existem casas de banho e antenas de televisão, mas nenhuma das casas é permanentemente habitada. Por vezes, em especial no verão, aparecem uns nostálgicos com filhos e netos que dão um certo colorido à zona.
Agora é uma rua limpa, não tem bostas, cagalhões, caganitas e outros dejectos cujos nomes fazem parte da nossa cultura.Mas também não tem pessoas, galinhas, burros, porcos, vacas cabras, ovelhas. Numa palavra, não tem vida.

A nossa rua ganhou um nome – 25 de Abril – escolha que lhe assenta bem em homenagem póstuma a antigos moradores. O Tó Preto que, na altura, presidia à Junta, confirmou que a atribuição toponímica não terá sido aleatória, e teve em conta o facto de ser a rua do ti Zé Queirós. Se assim foi, a escolha terá sido acertada, não só em homenagem ao nosso pai mas também aos nossos vizinhos que numa altura difícil de luta pela sobrevivência nunca assumiram, como o ditador, “dever à Providência a graça de serem pobres”. Digamos que, na linguagem da época, seria uma rua do “reviralho” e que alguns, mais próximos das ideias dominantes, apelidavam de “bairro vermelho”.

Não consigo já precisar bem a extensão deste núcleo “do contra” mas parece que, para além dos três irmãos Queirós (António, José e Luis) incluiria o ti Bernardo Limão, os Morgados, e outros que não eram propriamente vizinhos, em termos geográficos, como é o caso dos irmãos Caldeira.
A sua participação foi, porventura, muito modesta e limitada às suas possibilidades. Não derrubaram o regime, mas vontade e esperança não lhes deve ter faltado.
Nas contribuições monetárias, talvez de alguns magros tostões, para os que lutavam activamente contra a ditadura assinavam ; “nós também somos”.

Armando

(foto:A. André)

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