terça-feira, 4 de agosto de 2009

Os nossos vizinhos

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Na nossa rua as casas estavam todas habitadas e entre os moradores havia gente de três gerações.
Não obstante a proximidade em termos sociais e culturais, havia alguma diversidade.
Ao nosso lado, separada por caleja de cerca de um metro, era a casa da ti Concha, a que muitos chamavam a Espanhola.Casou com Bernardo Limão em Madrid, onde habitaram e tiveram os primeiros filhos, antes da Guerra Civil. A vitória do Franquismo recambiou-os para S. Pedro onde tiveram mais filhos e viveram o resto dos seus dias sem, no entanto, se integrarem totalmente nos hábitos e costumes da terra.
O ti Bernardo, exercia a sua profissão de barbeiro a cerca de um metro da barbearia do nosso pai e tiveram sempre uma relação de amizade e de grande afinidade.
A ti Concha que, talvez pela dificuldade de adaptação, demonstrava por vezes alguma rebeldia, tratou sempre a nossa mãe com um elevado respeito e até uma certa deferência.
Da casa da ti Delaide Rocha, uma viúva com dois filhos, ficou na nossa memória o mais velho, conhecido pelo Zé da Lai. Era um indivíduo voluntarioso que não poupava em palavras aqueles de quem não gostava ou que achava que o haviam prejudicado.
Na minha opinião o Zé era uma daquelas pessoas que falam muito mas que não fazem mal a uma mosca.
Fazia apostas por tudo e por nada, em como era capaz de carregar um saco de cem quilos ou ganhar uma corrida a um ciclista que lhe desse determinada dianteira.
Tinha uma certa admiração por pessoas inteligentes, classificando-as, como tal, se tivessem capacidade para resolver problemas.
Gostava de nós e manifestou sempre uma total disponibilidade para, durante a ausência do nosso pai, nos ajudar naqueles trabalhos que, pela nossa idade, ainda não conseguíamos realizar. Parece-me que nunca lhe chegámos a manifestar a nossa gratidão.
Outros vizinhos com quem tivemos sempre uma grande proximidade eram os Morgados, uma família tipicamente rural, em que o ti Morgado, viúvo já alguns anos, era pastor do rebanho que possuíam.Dos quatro filhos do ti Morgado hei-de lembrar aqui os dois mais novos, que tinham pela nossa mãe um carinho especial. Ambos tiveram um fim trágico.


Armando

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