sábado, 15 de agosto de 2009

A casa da Guarda

.
A vida de Aida reparte-se por três casas: a casa do Meio do Povo, a casa da Varanda e a casa da Guarda. Na casa do Meio do Povo, em S.Pedro, ela foi princesa; na casa da Varanda foi esposa e mãe: na casa da Guarda, ela afirmou-se e foi Mulher.
Ainda se pode ver na foto uma placa oval que dizia " Casa de Hóspedes Queirós", naquele tempo seguia-se a grafia oficial ninguém discutia se Queirós era com "z" ou com "s". A casa já tinha sido antes "Louro" e antes disso " Fragoso" e creio que também já tinha sido "Celeste". A renda era de 600 escudos/mês, o trespasse custou 42 contos, uma fatia considerável da fortuna de 80 contos que José amealhara no calores de África. Foi o Zé Vitorino através de um amigo, o Armando sabe o nome, quem descobriu a casa e calculou que seria um bom negócio, o lugar era único na Guarda, as camionetas de carreira a despejar magotes de pessoas de todo o distrito.

Nos anos 60 era ali o coração da Guarda, o largo palpitava de vida, às seis da manhã saía a do Amândio Paraíso para Viseu, às oito a do Tonico para a Covilhã, a dos Hermínios ia para Seia, a da Viúva Monteiro ia para o Sabugal, a "Pacheca" ia para Lamego, era a "estação central" da Guarda. A nossa casa era o ponto de encontro, restaurante, bar, pensão, escritório. No final da tarde quando o movimento acalmava, vinham os polícias beber um copo de vinho com um petisco da ti Aida, vinha o Pinho e o Mineiro, fiscais da intendência, uma especie de ASAE, eram visitas permanentes.

À noite a casa sossegava, Aida podia repousar um pouco, passava o ainda António Cesteiro de Gonçalo, o Sr. Cristo da relojoaria, o Sr. Vitória ou o Sr. Alcides da drogaria para um último copo.
No dia seguinte logo pela manhã, vinha a tia Maria do Leite da Póvoa do Mileu, a Sra Judite das Lameirinhas com a roupa lavada e passada, o Sr. Faneca (o Armando diz que não era este o nome, eu insisto), trazia o peixe. Um da casa Pom-Pom trazia a mercearia, até ao dia em que Zé Queirós se lembrou de pesar o bacalhau.
Da Vela vinha, às vezes, uma velhota, de burro, que trazia carqueja para acender o fogão.

Nas feiras do S. João e do São Francisco a casa adquiria um movimento fora do habitual, às vezes o padrinho e a madrinha vinham ajudar, não podemos esquecer a tia Celeste, seria uma injustiça, lembra o Armando. Aida geria grandes panelas de sopa, carne guisada, bacalhau cozido, bifes, havia fartura de tudo. No final da feira gostava de ir visitar as barracas, gostava dos barros de Barcelos, ia com a ti Judite, com a Conceição ou com a Patrocínio, era aquele o único momento de lazer que eu lhe conheci. Nunca teve férias, nunca reclamou do trabalho, os fregueses eram amigos, os vizinhos gostavam dela, tinha tempo para tudo e para todos.

Luís

1 comentário:

Armando disse...

De facto o Padrinho e a Madrinha, vieram ajudar algumas vezes na altura das feiras.
Mas acho que devemos lembrar e reconhecer que quem ajudava com mais freqência, nas alturas de aperto, era a Celeste (irmã da tia Alice).
A generosidade do casal Zé Vitorino-Celeste era manifestada também desta forma